VEREADORES DE SÃO LUÍS PEDEM VALORIZAÇÃO DA CULTURA LOCAL NO CARNAVAL 2025
![]() |
Imagem Câmara Municipal de São Luís |
O Carnaval de São Luís, um dos maiores e mais emblemáticos eventos culturais do Maranhão, tem sido, mais uma vez, palco de intensos debates políticos. A edição de 2025 já está nas ruas, mas, para além das festividades, um clima de insatisfação e exigências de valorização cultural paira sobre o cenário. Na última quarta-feira (26), durante a sessão na Câmara Municipal, os vereadores de São Luís expressaram suas opiniões sobre o evento, expondo um panorama revelador da luta por reconhecimento e recursos na festa popular.
O vereador André Campos (PP), que abriu os discursos, não poupou elogios ao prefeito Eduardo Braide (PSD) e ao governador Carlos Brandão (PSB), agradecendo pelo apoio às festividades de pré-carnaval. Contudo, em meio aos aplausos, ele já traçou um caminho para um "resgate" do Carnaval de Passarela, cobrando mais atenção às manifestações culturais genuínas da cidade. Campos destacou o que chamou de "restauro da cultura popular" e convidou a população a prestigiar o minidesfile e os ensaios das escolas de samba na Rua do Passeio – uma das principais iniciativas para trazer de volta o glamour dos antigos carnavais de passarela.
“É um gesto simbólico, é uma mão que mostra que vocês não estão sozinhos”, afirmou, referindo-se ao encontro histórico dos presidentes das escolas de samba com o governador Carlos Brandão no Palácio dos Leões. Um gesto que, para muitos, pode parecer um simples ato protocolar, mas que carregava um peso de afirmação cultural.
No entanto, o tom da discussão mudou rapidamente com a intervenção de Astro de Ogum (PCdoB), que trouxe à tona um aspecto polêmico: o medo de que o carnaval de passarela se perca, sufocado por outras manifestações mais modernas ou voltadas ao turismo. "Tentaram acabar com esse carnaval de passarela", disse o vereador, afirmando que há um esforço constante para marginalizar as escolas de samba de São Luís, uma tradição que ainda é motivo de orgulho para muitos. "O carnaval de passarela de São Luís é bonito", reiterou, fortalecendo a ideia de que a cidade precisa priorizar sua cultura local.
Mas o verdadeiro embate surgiu com as críticas de Wendell Martins (Podemos), que se distanciou do consenso geral. Enquanto a maioria dos vereadores exaltava a contribuição do Governo do Estado, Martins não hesitou em apontar a omissão da gestão municipal, particularmente no que se refere ao apoio ao carnaval nos bairros. Para o vereador, o prefeito Eduardo Braide não tem dado a devida atenção à "cultura das ruas", com um carnaval que também precisa chegar nas comunidades periféricas de São Luís, como nos bairros Itaqui-Bacanga. “O carnaval não é só aqui na Beira-Mar”, exclamou Martins, sugerindo uma negligência por parte do prefeito e da Secretaria Municipal de Cultura.
Ainda mais incisivo foi o posicionamento de Aldir Júnior (PL), que, em uma fala carregada de críticas aos gastos públicos, questionou a distribuição de recursos para o carnaval. Para ele, enquanto o evento de rua e as festividades turísticas recebem bilhões, o público cristão e os retiros espirituais, que também fazem parte da identidade cultural da cidade, ficam à margem. "Nós gastamos cerca de R$ 50 milhões no carnaval em São Luís, mas ninguém vê R$ 1 milhão de reais destinado a retiros espirituais", disparou, evidenciando um contraste entre a celebração popular e as manifestações religiosas.
A Luta pela Valorização da Cultura Local
O cenário apresentado pela Câmara Municipal é revelador das tensões culturais que atravessam a cidade de São Luís. De um lado, há a defesa enfática de um carnaval de rua e passarela como um bem cultural essencial, que precisa ser preservado, valorizado e reconhecido. De outro, a crítica de que o evento, com seu foco no turismo e nas grandes produções, não está atendendo às necessidades e demandas das comunidades locais. As escolas de samba, blocos e demais manifestações populares que têm sido as verdadeiras raízes do carnaval da cidade não podem ser ignoradas, alertam os vereadores.
No entanto, a divisão também se amplia quando se trata de como o poder público deve agir. A falta de diálogo e articulação entre as esferas estadual e municipal está criando um vácuo de políticas públicas efetivas. A insatisfação com a gestão de Eduardo Braide ganha força, e a disparidade no trato entre o governo estadual e municipal começa a ser um ponto crítico de debate. A exclusão das comunidades mais distantes do glamour do centro da cidade parece ser uma ferida aberta, ainda sem solução.
O Futuro do Carnaval de São Luís: Um Desafio Cultural e Político
Com as discussões acirradas, a pergunta que fica no ar é: qual será o futuro do carnaval de São Luís? Se depender dos vereadores, a resposta é clara: é preciso que as autoridades, sejam municipais ou estaduais, se unam em torno de uma solução que envolva todos os segmentos culturais, e não apenas os interesses turísticos ou comerciais. O carnaval de São Luís não pode ser uma festa para poucos, mas sim um evento que ressoe nas comunidades, nas escolas de samba, nas ruas e nos bairros da cidade.
Será que os próximos dias de festividades trarão mais do que apenas brilho e alegria? O carnaval de 2025 pode ser um marco para a valorização da verdadeira cultura local, ou será apenas mais uma vitrine de um evento massificado e elitizado?

Nenhum comentário