JAVIER MILEI E O GOLPE DAS CRIPTOMOEDAS: COMO O LANÇAMENTO DO $LIBRA PODE LEVAR AO IMPEACHMENT

El País

 

Javier Milei atravessa o momento mais turbulento de seu governo desde que assumiu a presidência da Argentina. A razão: seu apoio e divulgação do token $Libra, uma criptomoeda promovida por meio de um post em sua conta no X (antigo Twitter).

Neste artigo, exploramos a cronologia dos eventos e explicamos o funcionamento do ecossistema das criptomoedas, oferecendo um contexto para entender por que esse caso é descrito como uma possível mega fraude.

O Início: Um Site, $Libra e Financiamento

O primeiro passo foi a criação do site do projeto Viva la Libertad, onde foram fornecidas informações vagas sobre os objetivos do projeto. De acordo com os desenvolvedores, o token $Libra foi criado para captar recursos destinados ao financiamento de empresários argentinos.

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O Lançamento: Estrutura do Token

Pouco antes da postagem de Milei, por volta das 18h30, a criptomoeda $Libra foi oficialmente criada. Para isso, foi utilizada a plataforma Fixed Float, conhecida por permitir transações anônimas e geralmente associada a golpes. O token foi distribuído entre 12 carteiras diferentes para evitar que o projeto fosse rapidamente identificado como uma fraude.

Cinco minutos antes da publicação de Milei, a equipe responsável pelo desenvolvimento de $Libra transferiu fundos para o "pool de liquidez", permitindo que os investidores comprassem e vendessem o token.

O Apoio de Milei: A Explosão Inicial

Às 19h, Milei divulgou o lançamento de $Libra nas redes sociais. Sem essa divulgação, a moeda teria permanecido desconhecida, já que as maiores plataformas de criptomoedas não haviam listado o token.

Em questão de minutos, o preço do token disparou, alcançando US$ 5,54 por unidade. Por exemplo, o primeiro comprador adquiriu o $Libra por 0,216 dólares logo após o post de Milei.

A repercussão foi imediata: compradores e vendedores movimentaram cerca de 1,5 bilhão de dólares, e o valor total de mercado da criptomoeda subiu para 4,5 bilhões de dólares, um valor comparável ao de um banco privado argentino.

Cerca de 84% dos tokens estavam concentrados em apenas três carteiras, pertencentes à equipe de desenvolvimento, o que é incomum, pois os desenvolvedores normalmente possuem de 15% a 20% do total.

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O Grande Golpe: Informações Privilegiadas e Lucros Extraordinários

Após o lançamento, o preço de $Libra caiu drasticamente, caindo 70% em apenas uma hora, de US$ 4,74 para US$ 1,44. Especialistas no setor acreditam que a maior parte dessas vendas foi realizada pelos próprios desenvolvedores. Hayden Davis, CEO da empresa responsável pela criação do token e autoproclamado conselheiro de Milei, admitiu em entrevista que obteve cerca de US$ 113 milhões com o projeto.

Enquanto os criadores lucraram enormemente, a grande maioria dos investidores perdeu dinheiro. Segundo o especialista argentino Fernando Molina, mais de 75% dos investidores perderam até US$ 1.000, enquanto apenas 0,18% obteve lucros significativos.

$Libra: Uma Memecoin?

Uma questão importante é se $Libra pode ser considerada uma memecoin – criptomoedas baseadas em piadas e geralmente sem valor real. O desenvolvimento do $Libra seguiu o mesmo padrão das memecoins, o que levanta dúvidas sobre a seriedade do projeto.

Milei, no entanto, divulgou o token como uma oportunidade legítima de investimento, o que deixa duas possibilidades: ou o presidente foi enganado sobre o verdadeiro propósito do projeto, ou ele estava ciente da fraude e, portanto, pode ser responsabilizado criminalmente pelos danos causados.

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A Retratação de Milei

Horas depois de seu post, às 00h, Milei apagou a publicação, afirmando que "não conhecia os detalhes do projeto". Ele disse que, após se inteirar melhor sobre o assunto, decidiu não continuar divulgando o token.

A reação de Milei abalou ainda mais o preço de $Libra, consolidando as perdas para a maioria dos investidores. Durante o fim de semana, ele permaneceu em silêncio, restrito à Quinta de Olivos, sua residência oficial, onde foi visitado apenas por sua irmã, Karina Milei, e alguns membros próximos de sua equipe.

Este episódio coloca Milei no centro de uma polêmica, com a população e analistas questionando a transparência e a responsabilidade do presidente diante de uma possível fraude envolvendo sua figura pública.