O RETORNO DE LULA À TV: MARKETING POLÍTICO EM TEMPOS DE CRISE
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Imagem TV Gov |
Lula Vai à TV: Estratégia de Recuperação da Popularidade ou Marketing Eleitoral Antecipado?
Em um rápido pronunciamento transmitido em rede nacional na noite de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou um tom informal para destacar dois programas que, segundo ele, têm grande impacto na vida dos brasileiros: o Pé-de-Meia e a Farmácia Popular. O objetivo? Recuperar sua popularidade, que sofreu um declínio acentuado após a última pesquisa Datafolha, que registrou a queda da aprovação do presidente de 35% para 24% e a alta na reprovação, que alcançou um recorde de 41%.
"Hoje, quero conversar com o Brasil sobre dois assuntos muito importantes. Uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: o Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular", declarou Lula, em tom descontraído, durante o pronunciamento. O presidente explicou os detalhes de ambos os programas, reforçando as promessas de beneficiar a população, como a gratuidade de 41 medicamentos na Farmácia Popular e o crédito de R$ 1.000 para estudantes do Ensino Médio aprovados no programa Pé-de-Meia. Contudo, a estratégia parece mais voltada para reforçar a imagem do presidente e, com isso, tentar mitigar os danos da queda na popularidade, do que apresentar novas iniciativas.
A ofensiva de Lula na mídia, no entanto, não se limita a esse pronunciamento. Sidônio Palmeira, chefe da Secretaria de Comunicação Social, já havia anunciado em janeiro que a imagem do presidente seria cada vez mais explorada. Esse movimento ganhou urgência com o recente resultado da pesquisa Datafolha. A reaproximação com a população parece ser o foco imediato do governo, mas, se analisado sob outra perspectiva, o cenário sugere algo mais calculado: um plano de marketing eleitoral para as eleições de 2026.
Em outro movimento estratégico, o governo anunciou também a liberação do saldo do FGTS para trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário, mas que foram impedidos de acessar o valor devido à demissão. Esse benefício é uma tentativa de minimizar os efeitos negativos da opção feita durante o governo Bolsonaro, onde muitos trabalhadores ficaram com o saldo bloqueado ao aderir a essa modalidade. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a medida tinha o aval da equipe econômica, apesar de o próprio conceito do saque-aniversário ter gerado confusão e desconforto entre os trabalhadores.
Para os especialistas, o real objetivo dessas ações não é meramente informar a população, mas sim direcionar a mensagem para um eleitorado mais cativo e, por consequência, melhorar as perspectivas para o futuro político de Lula. Ricardo Corrêa, analista político, é enfático ao afirmar: "O objetivo, mais do que informar a população, era atingir mais fortemente o eleitor. Foi sem dúvida uma peça de marketing, muito mais do que um comunicado à população."
Marketing Eleitoral em Tempo de Crise
O ponto central da estratégia do governo Lula parece ser uma intensificação da comunicação direta, com o presidente sendo a principal figura à frente de cada "boa notícia". Se antes o governo de Lula delegava essas ações a ministros, agora é o próprio presidente quem assume a "cara" de cada novidade. Segundo Corrêa, "Esse deve ser um padrão do governo de agora em diante. Se desde 2023 seus ministros foram 12 vezes à TV para anúncios, contra metade disso do presidente, agora será Lula a cara de cada boa notícia."
Essa mudança estratégica também está em sintonia com o discurso econômico do presidente, que tem feito questão de ressaltar que a economia brasileira crescerá "mais do que o previsto". Em um discurso recente em Rio Grande (RS), Lula afirmou que "não acredite nessa bobagem da macroeconomia" e que o crescimento viria da microeconomia. "Deixe a bola rolar. Pode se preparar que vai crescer mais agora", afirmou com confiança.
Recuperando a Confiança ou Construindo uma Imagem para o Futuro?
O governo, portanto, parece estar investindo em duas frentes: uma imediata, voltada para recuperar a popularidade de Lula, e outra a longo prazo, já com os olhos voltados para 2026. A estratégia parece ser uma tentativa de reconquistar a confiança do eleitorado por meio de benefícios diretos, como os programas mencionados, mas com a clara intenção de usar as medidas a seu favor nas futuras campanhas.
Porém, a dúvida que paira sobre essa ofensiva é se a população realmente acredita que tais ações são genuínas ou apenas uma manobra para antecipar o jogo eleitoral. Se a comunicação se mantiver nesse ritmo, Lula não estará apenas lutando para salvar sua popularidade neste momento, mas sim moldando sua imagem para o cenário das eleições de 2026.

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