FÉ, BATOM E GOLPE: O DIA EM QUE BOLSONARO CONFESSOU TUDO DIANTE DOS FIÉIS
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Imagem Redes Sociais |
Ato na Paulista fracassa em empolgação e revela desespero messiânico de Bolsonaro e aliados
Prometido como um levante popular, evento pró-anistia em São Paulo vira desfile de elite gospel financiada e termina em confissão de crime do ex-presidente
Era para ser o grande ato de redenção. O momento em que Jair Bolsonaro, finalmente, mostraria que ainda é uma força política imbatível, capaz de reunir multidões espontaneamente para clamar por justiça. Mas o que se viu na Avenida Paulista neste domingo, 6, foi um espetáculo ensaiado, financiado, religioso e elitista — e, ainda assim, menor do que as maiores manifestações bolsonaristas dos últimos anos na capital paulista.
Sim, foi maior que o fiasco no Rio, mas isso não é exatamente um feito digno de orgulho.
O “povo” de Tarcísio: transporte bancado e devotos com batom na mão
Não faltaram ônibus fretados — generosamente pagos pelo governo de São Paulo — para trazer ao coração da capital uma multidão de fieis. Não de eleitores, mas de devotos. Fiéis de igrejas evangélicas do interior, mobilizados não pelo amor à democracia (ou à anistia), mas pela fé cega no messias do cercadinho.
Curioso como um governador que defende cortes e "eficiência na gestão pública" não mediu esforços para bancar esse deslocamento em massa. O que era pra ser um grito popular virou uma romaria com trilha sonora gospel e roteiro digno de retiro espiritual.
Ato político ou culto messiânico?
Desde os primeiros minutos, o clima era mais de vigília do que de protesto. Orações, pregações, louvores e Michelle Bolsonaro vestida com camiseta “ore pelo Brasil”, como se estivesse prestes a liderar um culto de avivamento nacional. Não faltou pastor nem obreiros para garantir o tom messiânico da encenação — um plot twist digno das melhores novelas religiosas da TV Record.
Na prática, o que deveria ser um ato político virou um show de fé — na impunidade, na anistia e no retorno glorioso do ex-líder à cadeira presidencial. Um delírio coletivo mais digno de peregrinação a Aparecida do Norte do que de manifestação democrática.
Confissão ao vivo: Bolsonaro e a minuta do golpe
E se o clima já era digno de seita, Bolsonaro fez questão de trazer a heresia definitiva ao altar da avenida: confessou, com todas as letras, que conhecia a famigerada minuta do golpe. Ele disse que o “plano só não deu certo” porque ele fugiu do país a tempo. Uma fala que, em qualquer democracia funcional, seria motivo de prisão imediata. Mas no Brasil de 2025, vira só mais um corte para o TikTok bolsonarista.
Aliás, seu discurso, como de costume, foi um remix dos piores hits: vitimismo, ataques a Lula, delírios de conspiração e uma pitada de desinformação eleitoral, como a já desmentida tese de que o TSE manipulou o alistamento de jovens para favorecer a esquerda.
Apologia ao crime e anistia como ameaça
A palavra do dia era “anistia”. Mas o que se viu foi, na prática, apologia aberta ao crime. Em pleno ato público, parlamentares como Nikolas Ferreira e Sóstenes Cavalcante prometeram pressionar, constranger e divulgar nomes de deputados que não assinarem a anistia aos golpistas do 8 de janeiro. Um verdadeiro linchamento moral anunciado com orgulho, diante de um público ensandecido.
E sim, os manifestantes — esses “cidadãos de bem” — seguiram gritando por intervenção militar, com faixas, cartazes e camisetas, como se isso fosse um detalhe folclórico da cultura bolsonarista, e não a persistência de uma ameaça à democracia.
Elitismo disfarçado de clamor popular
Ao contrário do que tentam vender, o ato não foi um levante das massas. Foi um encontro da elite branca evangélica, articulada com políticos milionários e patrocinadores de peso — como o pastor Silas Malafaia, produtor executivo da peça. Os “pobres” citados nos discursos eram personagens de retórica, não participantes reais da festa de trincheira. Caminhoneiros, cabeleireiras e “pessoas humildes” não estavam no palanque, muito menos na plateia.
Enquanto o prefeito Ricardo Nunes romantizava os presos golpistas como vítimas de “desumanidade”, o governador Tarcísio tentava transformar vândalos de Brasília em turistas patriotas. Um esforço coletivo de revisionismo histórico que faria inveja a roteiristas de ficção científica.
E no fim, nem os batons salvaram
A tentativa de transformar a pichadora de batom Débora Rodrigues em mártir foi o ponto alto (ou baixo) da pantomima. Réplica gigante de batons, menções emocionadas à sua mãe “missionária”, e discursos inflamados em sua defesa. Porque, claro, vandalizar o Supremo com batom agora é símbolo de resistência. Quem precisa de Constituição quando se tem maquiagem e oração?
Bolsonaro discursando em inglês (gritânico)
Pelo visto ele só sabe falar merda em português 😂😂😂 pic.twitter.com/h8aVVnqVn1
— André Janones (@AndreJanonesMG) April 6, 2025

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